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Pare de reclamar e melhore sua vida.

Você reclama muito do seu trabalho? Da sua vida? Das suas relações?

Já parou para pensar como isso impacta na sua situação atual?


“Se você não gosta de alguma coisa, mude-a. Se você não pode mudá-la, mude sua atitude. Não Reclame.” (Maya Angelou)


Antes de escrever sobre esse assunto, gostaria de dar um contexto de como me interessei pelo tema. De uns tempo para cá, comecei a reparar como as pessoas ao meu redor (amigos, familiares, alunos, clientes de coaching, etc...) reclamam das coisas. Várias coisas podem dar certo, mas pessoas se concentram em reclamar daquela única que deu errado. Isso começou a me incomodar de maneira mais profunda. As pessoas tem uma tendência em olhar aquilo que falta, ao invés de focar naquilo que é positivo. Contudo, como Jung dizia: “tudo que nos irrita nos outros pode levar a uma melhor compreensão sobre nós mesmos.” Então, se isso me irritava tanto, precisava entender o motivo. Talvez, entrar em contato com a minha sombra. Afinal, não perceberíamos os defeitos dos outros se também não os possuísse.

Além disso, lembrei de um conto no qual uma mãe levou seu filho ao Mahatma Gandhi e implorou: “por favor, Mahatma, peça ao meu filho para não comer açúcar. Gandhi, depois de uma pausa, pediu: “me traga seu filho daqui a duas semanas”. Duas semanas depois, ela voltou com o filho. Gandhi olhou bem fundo nos olhos do garoto e disse: “não coma açúcar”. Agradecida – mas perplexa – a mulher perguntou: ” por que me pediu duas semanas? Podia ter dito a mesma coisa antes!” E Gandhi respondeu: “há duas semanas atrás, eu estava comendo açúcar”. Assim, percebi que antes de falar ou escrever sobre o assunto, precisava treinar em mim o “parar de reclamar”.

Comprei alguns livros sobre o tema e comecei a ler. Um dos livros trazia o desafio de ficar 21 dias consecutivos sem reclamar, criticar ou falar mal dos outros ou das coisas. Vinte e um dias é um número “mágico” em alguns livros sobre comportamento humano. Isso porque 21 dias é o prazo necessário para transformar um novo comportamento em hábito. Assim, percebi que também reclamava, mais do que imaginava. Achava que não reclamava porque me comparava com pessoas que reclamavam muito. Reclamar é um hábito e parar por um momento para respirar dá uma chance de selecionar suas palavras mais cuidadosamente.

O trabalho de nos afastarmos das reclamações passa por quatro estágios: incompetência inconsciente, para incompetência consciente, para competência consciente e por fim competência inconsciente. Ou seja, primeiro precisamos reconhecer como reclamamos por tudo sem perceber (muitas vezes não temos nem consciência disso), observar nosso comportamento e aos poucos nos tornarmos conscientes e competentes em evitarmos reclamações. Até que num momento, internalizamos esse hábito (não reclamar) e reclamar deixar de ser um vício.

O psicólogo Robin Kowalski escreveu que muitas reclamações “envolvem uma tentativa de se despertar determinadas reações dos outros, como simpatia e aprovação.” Gary Zukav disse que a reclamação é uma forma de manipulação. Eric Berne foi um psicólogo canadense que desenvolveu a “análise transacional”. Nessa linha, ele entende que em nossas relações estabelecemos transações com as outras pessoas. Assumimos uma postura depressiva quando consideramos: eu não estou OK, os outros estão OK. Temos uma postura paranoide quando pensamos: eu estou OK, os outros não estão OK. Ficamos com a sensação de inutilidade quando julgamos: eu não estou OK, os outros não estão OK. A posição saudável surge quando pensamos: eu estou OK, os outros também estão OK.

Adotamos uma posição existencial, ou seja, um papel que assumimos para lidar com a vida. Existem três papéis principais: o perseguidor, a vítima e o salvador. Esses papéis podem ser exercidos de forma positiva ou negativa. Assim, a vítima é positiva, por exemplo, quando está doente, procura alguém para ajudá-la e se esforça para fazer sua parte no papel de recuperação. Contudo, a vítima se torna negativa quando está doente, chora, se desespera e não toma atitudes práticas para mudar. Vítima negativa é aquela pessoa hipersensível na interpretação dos acontecimentos. Percebe os eventos como conspirações do destino contra ela. Quando uma vítima negativa encontra outra vítima negativa surge a competição para saber quem tem um número maior de infortúnios. Inconscientemente, a vítima procura um perseguidor para culpar seus infortúnios e um salvador para ajudar a sair do sofrimento.

O perseguidor é positivo quando define os limites adequados e os aplica. Já o perseguidor negativo estabelece regras absurdas, usa agressividade verbal, moral e psicológica. Por fim, o salvador positivo é aquele que ajuda o outro sem se vangloriar ou criar laços de dependência. O salvador negativo é aquele que oferece ajuda sem ninguém ter pedido, mas a um preço bem elevado. A figura aparentemente protetora, não permite o crescimento e autonomia do outro. Ele oferece ajuda, mas espera gratidão. Se ele oferece apoio e não é reconhecido pela vítima, fica com raiva e assume o papel de perseguidor. Culpando a vítima por falta de gratidão.

Will Bowen fala que devemos nos lembrar de um conselho de mãe: “se você não consegue dizer uma coisa boa, é melhor não abrir a boca.” Adverte que quando estivermos num grupo e a conversa descambar para a negatividade: “fique na sua e observe”. Um outro ponto interessante é que percebemos que existem pessoas com um certo padrão de ferir as outras por meio das suas atitudes e palavras. Bowen nos alerta: lembre-se quem fere está ferido. Ou seja, antes de sentirmos raiva dessas pessoas, devemos ter certa compaixão. Elas apenas externalizam suas angústias, inseguranças e feridas. Se você tentar o treino de 21 dias sem reclamar, perceberá o desconforto quando alguém do seu lado começar a se queixar. Nesse caso, apenas observe, sem criticar, nem reclamar.

Nessa roda de reclamações, não podemos esperar que os outros parem de reclamar. Podemos fazer a nossa parte, treinar nosso comportamento e no máximo ser um exemplo para essas pessoas. Como dizia um antigo provérbio russo: “Se quiser limpar o mundo inteiro, comece varrendo a porta de casa.” Alguns autores, citam que, em certos casos, é melhor nos afastarmos das pessoas muito ranzinzas, negativas e que só sabem reclamar. Isso porque podemos entrar nesse padrão de comportamento (neurônios espelho). Um outro ponto importante é cuidarmos da nossa postura diante das crianças. Sabemos que as crianças tem o desejo mimético e aprendem por imitação. Dessa forma, se elas sempre escutam seus pais reclamando das coisas, tendem a imitar isso.

Aos poucos, temos que aprender a ficar períodos longos sem reclamar, para assim construirmos um hábito mais saudável. Não é o que fazemos de vez em quando que muda nossa vida, mas sim o que fazemos todos os dias. Temos que olhar os eventos de forma neutra e nos concentrarmos nos fatos (sem julgamento) e foca nas soluções. Os acontecimentos podem ser bons ou ruins dependendo do significado que atribuímos a eles.

Salvo Noè diz que as reclamações são como cadeiras de balanço, mantêm você ocupado, mas não levam a lugar nenhum. O papel de vítima é confortável, todavia nunca nos transforma e nos leva em direção ao que realmente queremos ser. A coisa mais importante é não tornar a reclamação um hábito. Vale lembrar, que nosso cérebro é dotado de neuroplasticidade e podemos modificá-lo. Uma pessoa que reclama muito, com treino e vontade, poderá mudar o padrão de reclamar.

Uma ressalva que gostaria de fazer é que existe um efeito terapêutico em colocarmos nossas angústias e reclamações para fora. Desabafo é diferente de lamentação. Conversar com um psicólogo sobre nossas demandas internas é sempre um bom caminho. O cuidado é para não ficar reclamando o tempo todo, de tudo para todo mundo.

Temos que nos lembrar que se queixar não irá resolver nada. É importante nos concentrarmos naquilo que queremos em nossas vidas, em vez de dar atenção ao que não queremos. Reclamar é se concentrar no que não queremos, é falar sobre o que está errado. Tudo aquilo em que concentramos, nossa atenção se expande. Buda dizia que somos formados por nossos pensamentos e que nós nos tornamos o que pensamos. São Bento falava em sua regra da importância de não ficarmos murmurando. Reclamar é um vício.

É comum as pessoas reclamarem de suas carreiras e do seu trabalho. Novamente, não reclamar não é vestir uma máscara e fingir que está tudo bem. É perceber o que te atrapalha e focar no que pode ser feito. Reclamar irá mudar seu trabalho? Sua carreira? Óbvio que não. O máximo que pode acontecer é se juntar a um grupo de outras pessoas que também reclamam de seus trabalhos e orbitar nessa energia que não leva a nada. Tem gente que passa a vida reclamando do que faz, mas nunca procura formas de viabilizar outros caminhos. Reclamar é bem mais fácil que mudar, que se capacitar, que buscar alternativas (que exigem esforço). Em gestão de carreira, não adianta nada assumir o papel de vítima, dizer que a empresa é o perseguidor e esperar do coach um salvador. Apesar que diversos profissionais de coaching adotam essa postura de “salvadores” pois sabem do número imenso de pessoas que vestem o papel de vítima profissional.

Como diz Martin Luther King, “talvez você não seja o responsável pela situação em que se encontra, mas vai acabar sendo se não fizer nada para mudá-la.” Não reclamar não quer dizer assumir uma postura passiva ou de silêncio. Porém, sim focar na busca por soluções, denunciar coisas que estão erradas e aumentar nossas competências para agirmos (ao invés de reclamarmos) .

Por fim, trago um trecho do livro um novo mundo – O despertar de uma nova consciência de Eckhart Tolle. Não devemos confundir não reclamar com a adoção de uma postura passiva no mundo.


“Reclamar não deve ser confundido com informar alguém de uma falha ou de uma deficiência para que elas possam ser sanadas. Além disso, abster-se de reclamar não significa necessariamente tolerar mau comportamento ou má qualidade. Não há interferência do ego quando dizemos ao garçom que a comida está fria e precisa ser esquentada – desde que nos atenhamos aos fatos, que são sempre neutros.” Como você se atreve a me servir sofra fria?’. Isso, sim, é uma queixa.


O artigo ficou muito grande, mas não reclama vai! Você já leu até aqui...rsrs Absorva o que ficou de bom. ;)

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