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ARTIGO: Coaching e a Desconstrução de Carreiras para Seguir sua Vocação

Sei que o titulo desse artigo pode parecer um pouco curioso. Então, irei explicar como ele surgiu. Fui ministrar uma palestra na Semana de Administração na universidade que leciono e muitos alunos estavam interessados em saber um pouco mais sobre coaching. Então, propus o tema para a coordenação e eles pediram um titulo para palestra. Naquele momento o titulo que encaminhei foi: Coaching para Construção de Carreiras com Sentido. Contudo, quando comecei a trabalhar na apresentação achei o titulo inadequado e optei por um novo: Coaching e a Desconstrução de Carreiras para Seguir Sua Vocação. Assim, detalharei o motivo da mudança.


Para falar sobre essa questão de carreira e vocação, refleti muito sobre a minha própria trajetória profissional. Não porque eu acho que ela é um modelo a ser seguido, longe disso (isso mataria a essência do coaching de estimular o protagonismo do cliente e cairia naquele velho erro de receitas prontas). Mas, simplesmente porque acredito muito naquela frase que diz: “Só podemos dar aquilo que temos em nós mesmos.” Então, acredito que só podemos estimular outra pessoa a seguir sua vocação e buscar sentido, se essa busca faz parte também da nossa vida. Talvez, seja um pouco da autenticidade proposta por Carls Rogers no processo de terapia centrada no cliente. Sempre desconfiei de palestrantes que, por exemplo, falem sobre liderança, mas que nunca foram líderes. De pediatras que não tem filhos e por ai vai...


Então porque mudei o titulo da palestra? Para esclarecer essa questão vale trazer o significado dessas duas palavras pelo dicionário Michaelis.


Carreira sf (lat vulg carraria) 1 Corrida veloz. 2 Caminho de carro. 3 Carreiro. 4 Trilha. 5 Curso, trajetória. 6 Caminho, fechado entre barreiras, para corridas de cavalos. 7 Corrida de cavalos. 8 Plano inclinado pelo qual desce o navio quando é lançado ao mar. 9 Estaleiro. 10 Fileira, fiada; fila. 11 Corredeira, correnteza. 12 Profissão: Preferiu a carreira das armas. 13 Esfera de atividade. 14 Meio ou modo de proceder. 15 O decurso da existência.

Vocação sf (lat vocatione) 1 Ato ou efeito de chamar. 2 Chamamento, eleição, escolha, predestinação. 3 Inclinação, propensão, tendência para qualquer estado, ofício, profissão etc. 4 Inclinação para o sacerdócio ou para a vida religiosa. 5 Disposição natural do espírito; índole. 6 Talento.


Analisando as duas palavras podemos encontrar diferenças significativas. Carreira surge como um caminho (e ainda fechado entre barreiras), como uma corrida veloz, como uma esfera de atividade, como um meio, como um modo de proceder. Se observarmos o contexto organizacional, a busca pela construção de uma carreira muitas vezes é realmente caracterizada por uma corrida veloz do individuo, no estilo Você/SA. As pessoas focam uma esfera de atividade (por exemplo, marketing) e assim vão se capacitando por meio de cursos e promoções de emprego em uma área especifica. É o individuo construindo o seu conceito de empregabilidade. Geralmente existe uma meta final ligada a um determinado cargo. Por exemplo, “quero ser diretor de marketing” e assim vou construindo uma carreira rumo a esse objetivo. E algumas vezes, são as empresas que vão pontuando as etapas para o individuo chegar na reta final. Existe certa intenção interior, mas o “lado de fora” tem um papel determinante.


Já a vocação surge como um “chamamento”, como uma inclinação, como uma disposição natural do espírito e está ligada ao talento. Vocação é algo muito mais profundo e está conectado com a essência do individuo. Enquanto, carreira trabalha o conceito de competências, a vocação está ligada aos talentos. Enquanto carreira busca “O que se faz?” , vocação busca o “Como de faz?”. O objetivo último de uma carreira geralmente é uma posição, um cargo. O objetivo último de uma vocação é uma causa. Carreira é meio, vocação é fim. Carreira está ligada ao racional, ao pensar; já vocação está ligada ao emocional, ao sentir. E talvez, a diferença mais marcante entre esses dois caminhos está na pergunta que os move. Carreira surge da pergunta: “O que eu quero da vida?” . Vocação surge da pergunta: “O que a vida quer de mim?”. São perguntas totalmente diferentes.


Para exemplificar, na minha trajetória profissional, iniciei com o foco na construção de carreira. O que eu queria na vida? Ser diretora de marketing! Iniciei e fui construindo os primeiros passos. Fui estagiária, analista júnior, analista pleno, analista sênior e por ai vai. Seguia os marcos que as empresas colocavam rumo a essa meta final. Contudo, em certa etapa do trajeto, esse caminho preenchia o meu tempo, mas não a minha alma. E ai surgiu, a pergunta: “O que a vida quer de mim? E depois de muito tempo, meditação, desenvolvimento e de um certo “olhar interno” pude perceber que a vida esperava que eu colocasse meus talentos para atender as necessidades do mundo e não do mercado. E assim, minha vocação estava ligada a usar dois talentos meus, a alegria e a profundidade, para ajudar o outro a ampliar a consciência, encontrar sentido, conectar-se com sua essência e assim exercer seu propósito no mundo. Construir essa resposta fez toda a diferença. E o mais interessante é que quando me conectei com a minha “causa”, minha vocação, descobri que posso exerce-la de diversas formas, com identidades distintas: consultora, coach, empreendedora, professora universitária, facilitadora de meditação, mãe e idealizadora de projetos. Todavia, sei que essa não é uma resposta definitiva, pois a cada momento a vida nos dá um contexto diferente e também nos transformarmos e evoluímos ao longo do caminho, consequentemente, a resposta certamente irá se transformar.


Quando entendemos a nossa vocação, resolvemos a equação:

O que eu sou? = O que eu faço

O risco de seguir uma carreira é o de desenvolver unicamente um lado da equação (o que eu faço?), sem questionar e se aprofundar com o outro lado (o que eu sou?).


Assim, o coaching é sim um processo fundamental para construção de carreiras e uma ferramenta de apoio para o desenvolvimento de competências. Porém, essa é apenas uma das possibilidades de se trabalhar com o coaching. O coaching certamente é um caminho poderoso para apoiar também a desconstrução de carreiras para uma conexão com a vocação. A grande ferramenta do coaching são as perguntas. O que eu quero da vida? O que a vida quer de mim? Ambas perguntas são poderosas e transformadoras! Cabe ao cliente (coachee) perceber qual é a que lhe move. Afinal, a escolha e o protagonismo são sempre do cliente. O importante é ter uma pergunta, porque de respostas o mundo está cheio. E como dizia Sócrates, uma vida sem reflexão não merece ser vivida.

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